11 setembro 2006

Entrevista à "WildBlue" do programa OPA

O Sons da Margem Sul lança a sua primeira entrevista! O objectivo é dar a conhecer o trabalho de muitos "anónimos" e os seus projectos, no contexto da nova música portuguesa. Esperemos que a informação recolhida seja do vosso interesse.

SdMS: O Programa OPA (Onda Portuguesa no Ar) da Rádio Amizade On-line é relativamente recente. Como surgiu a ideia de criar este projecto?
Claudia: A ideia de fazer um programa sobre a nova música portuguesa era algo que há muito tinha em mente. Não que o projecto seja original, pois existem programas do mesmo género noutras rádios. Penso que nesta área todos os esforços valem a pena. A mim ainda me indigna que muitas bandas invistam no lançamento de um cd, para que por vezes nunca tenham a oportunidade de ver as músicas a passar na rádio e tantas vezes, poucos meses após os lançamentos desses mesmos cds, vou encontrá-los algures numa pilha numa grande superfície a 1,50€. Conheço inclusive muitos casos de bandas que investem na gravação de um videoclip e não têm uma única televisão que os queira passar. Com o surgimento de algumas ferramentas na net é possível passar ficheiros de som e áudio para sites que visam a divulgação de novas bandas, sejam elas portuguesas ou não.

SdMS: Qual a abrangência do OPA? Dá relevância a algum género musical ou busca todas as vertentes da música portuguesa?
Claudia: O ideal é que o programa OPA fosse ouvido por todas as pessoas, independentemente da idade e até do país, pois estando o download disponível da net, qualquer pessoa de qualquer parte do mundo o poderá descarregar para o computador. Da minha parte tenho tentado pôr amigos de várias partes do mundo a ouvir música nacional. Curiosamente os projectos mais destacados por eles foram os Sloppy Joe, a Lúcia Moniz por ter entrado no filme Love Actually, os Mesa e o António Variações. Por exemplo, o Pedro Abrunhosa não teve grande aprovação. Mais que uma pessoa referiu-se a ele como “o tipo que canta em alemão”. Independentemente de colocar, de quando em vez, os meus amigos virtuais a ouvir o OPA, a verdade é que eles estão longe de ser o seu publico alvo. Neste momento o OPA é emitido todos os domingos na RAO entre as 20h e as 21h, mas no geral o público dessa rádio não dá especial atenção à música nacional porque não a conhece e também não sente grande vontade de a ficar a conhecer. Por isso, e após ter optado por colocar o OPA para download, passei a ter muitos mais ouvintes, que podem ouvir quando lhes der mais jeito e esse é o meu verdadeiro púbico alvo, aquele que se dá ao trabalho de descarregar o programa para o ouvir com atenção. Posso dizer que esse público é essencialmente homens cosmopolitas (infelizmente as mulheres não se têm relevado o meu público alvo), ou que têm uma banda ou que estão ligados ao meio artístico ou que sejam pelo menos curiosos. São no geral pessoas bastante conscientes de que há grandes valores na música portuguesa. Já ouvi alguns comentário em relação ao OPA, de pessoas que ao ouviram o programa, ficaram com uma ideia totalmente diferente do estado da música nacional. E eu posso garantir que estão a fazer-se coisas muito boas não só em Lisboa, mas como de norte a sul do país. Projectos inovadores que nada têm a ver com a música que se fazia há 10 ou 15 anos atrás. É por isso que acho importante referir que o OPA dá a conhecer muito da nova música portuguesa, aquela música que é mais do que pop /rock ou ligeira. Uma banda que em território nacional faça a diferença e já há nomes que conseguiram trilhar um caminho para a fama, exactamente por serem diferentes dos restantes.

SdMS: Têm aparecido diversos projectos muito válidos nas mais diversas vertentes musicais. Como vês o estado actual da música portuguesa?
Claudia: Criativamente nunca estivemos tão bem. Os músicos nacionais têm imaginação para dar e vender, mas infelizmente não são esses que conseguem os grandes contratos, nem são esses que têm a agenda cheia de concertos. Como seguidora de algumas bandas frustra-me vê-las com bastante mérito, a viajar com o material quase às costas de terra em terra, para tocarem para pessoas que na verdade não os querem ouvir. Ficam atónitas em frente ao palco a pensar que gostariam era de estar a dançar ao som de uma banda de baile. Já vão havendo mais sítios para tocar, mas estão longe de ser os suficientes. Já há um circuito de bares bastante interessante, há também o percurso das Fnacs que tem ajudado e muito, mas tudo isto acontece nos grandes centros. Basicamente há meia dúzia de artistas que conseguem fazer muitos concertos durante o ano todo mas a culpa não é deles, bem pelo contrário. Muitos desses artistas tentam ajudar os novos talentos, a questão é que o público português tem um ouvido pouco treinado para ouvir novos sons e no geral tudo o que é diferente entra em choque. Depois, também continuam a não cumprir-se as quotas de música portuguesa que era suposto passar na rádio. Dizem os directores das rádios, que se tivessem de passar uma quantidade tão grande de artistas nacionais, talvez fossem obrigados a recorrer a música com pouca qualidade. A questão para mim vai mais longe, quem são os directores das rádios para definirem o que tem e não qualidade? A verdade é que há bandas e artistas que caem no goto, e claro com as editoras a fazerem o trabalho que compete ou seja, promovê-los massivamente. Há artistas que têm passagem garantida nas rádios, quer façam um bom ou um mau trabalho. Outros há que estão sempre a ser postos à prova. É uma desigualdade que me aborrece. Se ao início tinha como objectivo passar música portuguesa mais conhecida, Fingertips, Gomo ou David Fonseca., facto é que a vontade de passar músicas desses projectos, e de outros conhecidos e devidamente promovidos, é nula. Por isso raramente passo artistas que já têm apoios de todos os lados e mais alguns. Os que precisam de mim são os que andam nisto por amor à camisola, e se for preciso, ainda pagam do seu bolso para tocarem. São essas bandas que me merecem respeito e consideração, em nome disso passo-os várias vezes no OPA. Nesta altura fazer o OPA é mais do que fazer um programa sobre música, há aqui uma componente humana, um envolvimento com algumas bandas que não há dinheiro que pague.

SdMS: A música com carimbo nacional tem alguma dificuldade em penetrar no mundo radiofónico português. Na tua opinião a que se deve tal facto?
Claudia: Para mim tudo não passa de uma questão de simpatias e influências. Se uma editora por qualquer motivo simpatiza com um projecto e por qualquer motivo vê nele mais potencialidades, vai promovê-lo massivamente. E isso vê-se com bandas bastante recentes. Agora terão essas bandas mais qualidades do que as outras que não têm oportunidades? Não, não me parece. Então porque é que às outras não lhes é dada a mesma oportunidade? Poderá haver várias versões, várias especulações mas na minha sincera opinião os motivos são bem mais primários do que se pode julgar. Não sinto que haja nenhuma campanha de desvalorização de certas bandas, apenas, se não se tiver os conhecimentos certos dificilmente se chega a lado algum. Essa é uma certeza tanto na música como qualquer outra área. O mesmo acontece em relação às rádios. Uma banda que entregue uma maqueta em mãos numa rádio, muito dificilmente vai puder ter resultados. E porquê? Porque os directores das rádios, no geral, não dão qualquer atenção ao novo material que chega, a não ser, que venha recomendado por alguém ou que o artista ou banda já sejam sobejamente conhecidos. O que tende a acontecer é que os cds são usados para fazer de calços. As bandas que não se sintam sozinhas nesta situação porque também locutores e jornalistas que se candidatam espontaneamente a uma rádio raras vezes são chamados. O que fazem com os currículos, é usá-los na melhor das hipóteses para folhas de rascunho, na pior, bom podem dar-lhe uma infinidade de utilizações. É por essas e por outras, que para diminuir a possibilidade de utilização injuriosa do meu CV que o envio sempre impresso em folhas grossas. Não me apetece terminar estampada algures no rabo de um qualquer director.

SdMS: Como podem as bandas ver o seu trabalho no OPA? Que critérios orientam a escolha dos temas e projectos que passam no programa!?
Claudia: É simples, basta contactarem-me através do e-mail claudiamatossilva@gmail.com. Até agora nunca coloquei nenhuma entrave nem limitação de estilo ou género. Todas as bandas interessam ao OPA, com isto não quero dizer que gosto de todas elas, mas o OPA não se trata de mim mas da música nacional que se faz em Portugal. Até ao momento sinto que a OPA tem estado muito bem representada por bandas, com um nível qualitativo bastante elevado. Um dos aspectos que faço questão de destacar sempre é um ou dois temas históricos na música nacional. Acho importante não esquecer quem anda cá há mais tempo e que ajudou a abrir muitas portas a novas bandas.

SdMS: Que conselhos deixarias para os novos projectos musicais que estão agora a dar os seus primeiros passos?
Claudia: Em primeiro se querem ter uma banda porque pensam que isto aqui é como nos Estados Unidos, Rockn’Roll, miúdas giras e limusinas, então desistam. Aqui não há estrelas. Poderão haver pessoas que vivendo no mundo da fantasia se julguem estrelas do rock português, mas feliz ou infelizmente o nosso mercado não permite que se chegue a tal estatuto. Portanto se querem ter uma banda, precisam acima de tudo espírito de esforço, dedicação, suor e algum dinheiro, porque ser música puxa muito pela bolsa. Se tiverem dinheiro para se lançarem sozinhos e inclusive agenciarem-se, tanto melhor. Aliás, nesse caso serão vocês os únicos responsáveis pelo fracasso ou sucesso da vossa banda. Se estiverem à espera que a editora faça alguma coisa por vocês, se caírem no goto até pode correr bem, se não, serão apenas mais um que após meses de promessas se vêm com um cd que não passa na rádio e que em 3 tempos está nos hipermercados ao preço da uva mijona.


Contactos do OPA:
E-Mail: claudiamatossilva@gmail.com
URL: http://www.programaopa.pt.vu/
Blog: http://www.programaopa.blogspot.com/
PodCast: http://programaopa.podomatic.com/

Em nome do blog quero agradecer a tua disponibilidade e deixar votos do maior sucesso para o OPA. Sempre que necessitares, podes contar connosco.

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